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INFO Agosto2018 Implicações Clínicas das Mutações da Proteína Viral R na Progressão da Infeção por VIH









Implicações Clínicas das Mutações da Proteína
Viral R na Progressão da Infeção por VIH


Rui Manuel da Costa Soares
Médico Interno do Serviço de Patologia Clínica do IPO de Coimbra
Assistente Convidado, Microbiologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra

controlar várias funções da célula hospedeira através
de diversos mecanismos biológicos e vias celulares.
Para além disso, as funções da Vpr têm sido associa-
das a um aumento da replicação viral e disfunção do
sistema imunitário em doentes infetados com HIV-1.
Em células que não se dividem, como é o caso dos
macrófagos, a Vpr é necessária para que ocorra repli-
cação viral de forma efciente, promovendo também
este processo em células proliferativas, tais como os
linfócitos T CD4 . As mutações que ocorrem na Vpr
+
podem originar defeitos funcionais nesta proteína que
têm sido correlacionados com uma forma mais lenta
de progressão da doença em indivíduos portadores de
HIV, pelo que podem constituir um potencial alvo tera-
pêutico em tratamentos futuros.

O vírus de imunodefciência humana tipo 1 (VIH-1), o
agente causador da síndrome de imunodefciência adqui-
rida (SIDA), é um membro da subfamília lentivírus .
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O genoma do VIH-1 codifca uma proteína acessória
14kDa denominada proteína vírica R (Vpr) que é uma
proteína associada a viriões composta por 96 aminoá-
cidos . A Vpr desempenha diversas funções biológicas,
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incluindo a paragem do ciclo celular na fase G2, indu-
INTRODUÇÃO ção da apoptose, importação nuclear do complexo de
pré-integração (PIC), modulação da expressão genética
O síndrome da imunodefciência adquirida (SIDA), é e supressão da ativação imunitária. A Vpr contém uma
causado por uma infeção crónica pelo vírus da imuno- região N-terminal fexível, três domínios alfa-helicais e
defciência humana (HIV, do inglês “human immuno- uma região C-terminal fexível. Cada função da Vpr é atri-
defciency vírus”). Ao longo dos últimos 30 anos, a in- buída a um ou mais dos seus domínios e parece estar
vestigação desenvolvida nesta área tem feito inúmeros correlacionada com os parceiros que interagem com es-
avanços no conhecimento da genética do vírus e do tes domínios. O papel da Vpr na patofsiologia da SIDA é
papel dos seus constituintes na progressão da doen- de particular interesse, uma vez que causa muitas dis-
ça, dando origem ao desenvolvimento de estratégias funções celulares. Além disso, a Vpr é necessária para a
terapêuticas mais efcazes. A proteína viral R (Vpr, do infeção efciente de células não divisíveis e macrófagos
inglês “viral protein R”) do vírus HIV-1 é uma proteína diferenciados (analisada em 3), que são alvos impor-
acessória com múltiplas funções e que desempenha tantes durante as fases iniciais da infeção, contribuindo
um papel importante nas várias fases do ciclo de vida assim para a criação de reservatórios virais .
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do HIV-1. Esta proteína interage com muitas outras
proteínas celulares e virais e é caracterizada pela sua Inúmeros estudos demonstraram que as mutações na
participação em diferentes atividades, nomeadamente Vpr do VIH-1 poderiam afetar seriamente as suas fun-
no transporte nuclear do complexo de pré-integração ções conhecidas, levando à expansão de várias hipóte-
(PIC, do inglês “pre-integration complex”) para o nú- ses sobre o papel da Vpr no curso da infeção. De facto,
cleo, ativação da transcrição, interrupção do ciclo ce- a associação de mutações de Vpr com não progressores
lular na fase de transição G2/M e indução de morte de longo prazo (LTNPs) deram origem ao interesse nesta
celular por apoptose. A Vpr tem sido ainda descrita por área de investigação, devido à possibilidade de desen-




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