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Implicações Clínicas das Mutações da Proteína Viral R na Progressão da Infeção por VIH Agosto2018 INFO





















res e clínicos focalizados no VIH. A infeção por VIH-1 em CONCLUSÃO
macrófagos no sistema nervoso central, bem como a sua
proteína acessória Vpr, têm sido associados a demência Nos últimos 30 anos registaram-se avanços notáveis
em doentes infetados por VIH-1. A demência associada no conhecimento da imunopatogénese da infeção por
ao VIH-1 (VIH-D) é uma doença caracterizada por défces VIH-1 e SIDA. A compreensão dos mecanismos biológi-
motores e cognitivos e parece ser causada pela presen- cos e moleculares do ciclo de replicação viral e a respos-
ça do VIH-1 no cérebro. A encefalopatia por VIH (VIH-E) ta do hospedeiro à infeção é, atualmente, um assunto
é uma doença subjacente associada e observada em bem documentado, o que contribuiu para intervenções
autópsias de doentes com VIH-D. A prevalência de per- específcas em determinados vírus e, consequentemen-
turbações neurocognitivas associadas ao VIH tem vindo te, para, pelo menos, a recuperação parcial do sistema
a aumentar, apesar da introdução do cART. O mecanismo imunológico. Deste modo, mesmo os indivíduos em fa-
da patologia por VIH-D ainda não é totalmente compre- ses tardias da infeção podem agora ter uma expetativa
endido; no entanto, há evidências que sugerem que as de sobrevivência a longo prazo, caso tenham acesso ao
células mononucleares desempenham um papel funda- cART e a melhores cuidados de saúde.
mental na progressão da doença. Além disso, as princi-
pais fontes de replicação do VIH-1 no cérebro parecem A Vpr é uma proteína viral curta solúvel que se expressa
ser os macrófagos e a micróglia . tardiamente durante a replicação viral e é detetável no
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soro de doentes infetados com o VIH-1. A Vpr perma-
A Vpr tem sido igualmente associada ao desenvolvimen- nece como a mais enigmática das proteínas acessórias
to de demência em doentes infetados por VIH e poderá do VIH devido à sua interferência em muitas vias celu-
também estar envolvida nas formas mais subtis de doen- lares distintas ao longo do ciclo de vida do vírus, jun-
ças neurológicas. Poderá funcionar como um efector di- tamente com funções diferentes que contribuem para
reto do VIH-E mediado pelo VIH-1, uma vez que foram a patogénese da infeção por VIH-1. Têm-se já regista-
detetados níveis elevados desta proteína no fuido ce- do progressos signifcativos na compreensão do papel
rebrospinal (CSF) de doentes com defcits relacionados da Vpr nas etapas mais relevantes da replicação viral,
com o VIH. Assim, a Vpr foi detetada nos gânglios basais nomeadamente, a incorporação, a localização nuclear,
e no córtex frontal de cérebros com VIH-E e mostra-se implicação na paragem do ciclo celular, ativação da LTR
elevada no CSF e nos soros de doentes seropositivos e subsequente apoptose. Assim, o envolvimento da Vpr
infetados por VIH 40;41 . Nos cérebros com VIH-E, a Vpr foi nestes processos-chave tem estimulado o interesse em
encontrada em neurónios e macrófagos, onde se pro- desvendar a sua estrutura e compreender a interação
vou ser essencial para a indução da apoptose neuronal com os parceiros celulares. Embora os detalhes molecu-
em células de corpo estriado e corticais . Além disso, lares dessas ações da Vpr não sejam ainda totalmente
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foi demonstrado que a Vpr aumenta a produção de es- compreendidos, a Vpr tem contribuído signifcativamen-
pécies de oxigénio reativas nas células microgliais e em te para o conhecimento da informação disponível sobre
linhas celulares de neuroblastoma, baixa os níveis de o VIH-1. Os resultados mostram que, embora não sendo
ATP e os níveis de proteína na membrana de plasma essencial para a replicação viral per se, a Vpr é biologi-
Ca ATPase, o que tem sido associado à sinalização da camente crucial na infeção das células-alvo indivisíveis,
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morte celular nessas células. Foi igualmente demons- incluindo os macrófagos e as células T em repouso, e
trado que a Vpr produzida em macrófagos infetados por promove igualmente a infeção de células divisíveis.
VIH-1 inibe o crescimento axonal dos precursores neuro-
nais num processo independente da apoptose . Assim, Têm sido desenvolvidas estratégias, nomeadamente
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a Vpr parece contribuir para o desenvolvimento do VIH-D de eliminação, inserção e mutação pontual para in-
ao mediar a morte celular e a defciência neuronal em vestigar as funções dos domínios estruturais da Vpr.
doentes infetados por VIH-1, juntamente com um papel As variações biológicas que ocorrem na sequência da
na infeção e sobrevivência de macrófagos. Vpr no VIH-1 podem infuenciar a função da proteína,







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